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NT Entrevista Marta Volpiani - Dubladora Florinda
NT Entrevista Marta Volpiani - Dubladora Florinda

 

 

NT- Como foi feito o convite para você fazer parte deste projeto original (década de 80) de dublagem do programa Chaves? Houve concorrência? Você se inscreveu em algum teste ou foi chamada? 

 

MV-   Eu fazia novela no SBT, e sempre tive curiosidade para saber como era o trabalho de dublagem. Quando terminamos de gravar uma novela chamada   " A Leoa ", eu como todos os outros atores, fiquei desempregada, então fui ao departamento de dublagem para fazer um teste, para ver se eu sabia fazer aquilo.

Fiz o teste e ganhei um pequeno papel numa novela mexicana, era uma  moça que entrava muda e saia calada, só tinha reações; Acontece que os capítulos chegavam do México em blocos de 10, e para a nossa surpresa, a tal moça era a vilã da história, e eu tive que aprender na marra. No final foi um trabalho bem bacana, que me deu experiencia, e me abriu as portas da dublagem.

Quanto ao Chaves, na época o Marcelo Gastaldi dirigia o departamento de dublagem, e sempre que eu estava trabalhando e ele passava, ele parava pra ver, e dizia : Você tem talento, gosto do seu trabalho.

Um dia ele passou por mim e disse : Vou receber uma série nova, tem um papel que eu acho que vc vai fazer muito bem, e vou te dizer mais, é um trabalho que vai entrar para a estória. Eu dei risada e não levei muito em conta.

Alguns dias depois, ele me convidou para fazer a Dona Florinda do Chaves, e ele tinha razão mesmo, foi um trabalho que entrou para a estória da dublagem brasileira.

Pena que ele não viveu para ver isso.

 

 

NT- A idéia sempre foi você dublar a Dona Florinda ou teve outros personagens que estavam em sua "mira" antes ? 
 

MV-  Não, nada estava na mira,  eu estava trabalhando, fazendo os personagens que apareciam, eu era muito jovem, tudo era uma experimentação, e todos os trabalhos faziam parte como fazem até hoje, do meu exercicio de atriz.

 

 

NT- Naquela época vocês já pressentiam esse sucesso todo vindo do programa para a carreira de vocês pessoais? O quanto esse projeto abriu portas para outros grandes ? 

 

MV - Em nenhum momento passou pela nossa cabeça, que o Chaves pudesse ser um grande sucesso, o Marcelo sempre acreditou que seria, mas nós  achavamos que ele viajava um pouco ( ele estáva certo ). Achavamos o programa muito simples, de cenários sem recursos, e diálogos muito previsiveis. Hoje sabemos que o sucesso, está exatamente nisso, na inocenciados dos personagens, e na simplicidade dos diálogos. Sem duvida nenhuma, o  Chaves me abriu as portas da dublagem, e

deu a todos nós um respeito profissional muito grande.

 

 

NT- Qual a maior lembrança de estúdio que você tem na época da dublagem original? 

 

MV - Tenho muitas lembranças boas, mas uma que me faz rir até hoje é o seguinte: No começo da série, nós eramos dirigidos pelo Osmiro Campos, que faz o professor Girafales, ele é um ator muito talentoso, e um diretor muito dedicado.

       Quando ele estava me dirigindo, ele pegava muito no meu pé, pois queria que eu fizesse cada vez melhor, e as vezes quando eu achava que tinha ficado muito bom, ele mudava o texto, e eu tinha que fazer de novo. E aí eu ficava muito brava, como não queria brigar com ele, eu bufava na estante.

       Um dia ele me disse : A sua sorte é que vc é muito boa no que vc faz. Mas eramos e somos grandes amigos até hoje, adoro ele.

 

 

NT- Tem alguma passagem interessante durante as gravações, que voce possa nos contar ?

 

MV -  Nesta época já dublavamos separadamente, era como é até hoje, só um ator no estudio, então a gente quase não se encontrava, exceto em entradas e saidas de estudio.  Mas eu gostava muito de dublar o Chapolin Colorado, pois  cada dia era um personagem diferente e nos dava margem para fazer um trabalho diferenciado.

       Num dos programas, se não me engano, o Chapolin era Leonado Da Vinci, e a Florinda era a empregada dele, decidi por conta própria fazer uma empregada nordestina arretada, e ficou muito bom. A questão foi que o Silvio Santos ficou muito bravo, e tivemos que refazer tudo. Acho

que se tivessemos isso gravado hoje seria muito interessante.

 

      

NT- Qual o foi o maior desafio de dublar a Dona Florinda, teve alguma adaptação para a linguagem em português?
 

MV- Não tive nenhum  desafio, dublar a Dona Florinda  sempre foi muito tranquilo. O que no final acabou exigindo muito da minha vóz, foi dublar a Pópis  fanha,  pois não era assim no original, mas resolvemos fazer uma graça e acabou ficando muito bom.

      Só que  o trabalho durou bastante e tive algumas rouquidões por causa da Pópis.

 

 

NT-  Você talvez seja uma das dubladoras mais reservadas no Programa Chaves, mas sei que tem um fã clube grande? Você gosta de fazer parte dessa geração de dubladores do Chaves ou quer continuar sua carreira desvinculando um pouco desse programa? 

 

MV - Gosto muito de fazer parte dessa geração de dubladores, e tenho muito orgulho de ter feito esse trabalho, que me deu a oportunidade de receber esse carinho enorme de todo esse fã clube, o qual tenho muito  respeito . Eu sou uma pessoa um pouco reservada em todos os sentidos

então pode parecer que é em relação ao Chaves, mas não é não. È em relação á minha vida como um todo. Mas gosto muito de participar de todos os eventos do Chaves, pois receber o carinho desse fan clube é a recompensa por ter feito o Chaves.

 

 

NT- Falando nisso. O que você esta fazendo hoje? Novos projetos ? Ainda dublando filmes ? Se sim, qual você pontua atualmente ? 

 

MV - Minha formação de atriz vem do teatro, mas desde que tive meus filhos, parei um pouco  pra me dedicar a eles, mas meu caçula está com 10 anos, e hoje já cogito a possibilidade de voltar para o palco. Recebo alguns convites para fazer novela no Rio de Janeiro, mas ainda não quero deixar meus filhos por aqui pra viver na ponte aérea. Quem sabe daqui a pouco. Por  outro lado, continuo dublando, pois é um trabalho que eu gosto muito, e me dá muita satisfação em fazer.

 

 

NT- Existe algum projeto ainda pro futuro com o Chispirito/Chaves que você esta envolvida pro futuro ?

 

MV-  Não, dublamos alguns capítulos inéditos do  Chaves, mas está em poder do SBT e não sabemos o que eles pretender fazer, já que todos os direitos do Chaves pertence a eles.

 

 

NT- Qual a dica que você da para quem esta começando a carreira de dublador agora ?

 

MV- Há uma distorção no mercado de dublagem hoje. O dublador tem que ser em primeiro lugar ATOR, senão não funciona. O que ocorre, é que a pessoa faz um cursinho de dublagem, e acha que pode sair interpretando, e e pior é que tem gente do mercado hoje, que acha que isso basta.

       O conselho que eu daria é: - Se vc é ator ou acha que tem talento para ser, vá estudar, vá aprender a arte de interpretar, entre para uma escolar de atores, ser dublador é uma consequencia, é a continuação do trabalho . As coisas não acontecem da noite para o dia, é preciso muito trabalho e dedicação para ser reconhecido num universo tão concorrido como é o mercado de atores hoje ( digo atores, porque atores e dubladores são a mesma coisa )